domingo, 23 de maio de 2010

As Raízes da Música Bluegrass



A balada de rua das pessoas que migraram para as Américas no início dos anos 1600 é considerada a raiz da música tradicional americana. Sendo que os primeiros colonos se espalharam nas Carolinas, Tennessee, Kentucky e Virginha, faziam composições das suas experiências vividas do seu dia-a-dia nas terras novas. Como a maioria deles vivia em áreas rurais, as canções refletiam a vida na fazenda ou nas montanhas e estas músicas eram chamadas "Musica da Montanha" (Mountain Music) ou "Musica da Região" (Country Music). A invenção da Vitrola (phonograph) no início dos anos de 1900 tirou esta música das montanhas do sul dos Estados Unidos e a levou para pessoas espalhadas pelo país todo. O canto belo se tornou uma parte mais importante da música country. Artistas cantores, tais como Jimmie Rodgers, conjuntos de família como a Carter Family da Virginia e duetos tais como os Monroe Brothers do Kentucky contribuíram muito para o avanço da música regional tradicional.
Os Irmãos Monroe era um dos duetos mais populares da década dos anos 20 até os anos 30. Charlie era violonista , Bill tocava o bandolim e eles cantavam duetos em harmonia. Quando os irmãos se separaram em 1938, cada um seguiu formando sua própria banda. Uma vez que o Bill era um nativo do Kentucky, considerado o Estado do Bluegrass, ele decidiu de chamar sua banda "Bill Monroe and the Blue Grass Boys", e o som desta banda deu cria a um novo timbre da country music.
Bill Monroe & the Blue Grass Boys apareceram pela primeira vez no teatro "Grand Ole Opry" em 1939 e em breve se tornou uma das bandas mais populares saído dos estúdios de Nashville. A banda do Bill era diferente das demais bandas tradicionais da country music por causa do seu forte balanço e timbre sonoro, usando instrumentos acústicos tradicionais e apresentando harmonias vocais bem distintas. Esta música incorporava canções e ritmos de conjuntos de cordas , de música gospel (brancos e negros), canções operárias e gritos dos trabalhadores negros, repertórios do country e do blues. As seleções vocais incluíam duetos, trios, cantos de harmonia em quarteto, além do vocal solo agudo e poderoso do Bill chamado de "High lonesome" (agudo solitário). Após experimentar várias combinações de instrumentos, o Bill resolveu o formato da sua banda como sendo bandolim, banjo, rabeca (violino caipira), violão e contrabaixo.
Enquanto muitos fãs do Bluegrass consideram o ano do gênero como sendo 1939, época que o Bill formou sua primeira banda dos Blue Grass Boys, a maioria porém acredita que o som clássico do bluegrass se formou em 1945, logo depois que Earl Scruggs, um tocador de banjo de 21 anos da Carolina do Norte, se juntou à banda. Scruggs tocava seu banjo com uma técnica inovadora, usando 3 dedos (3-finger picking) que deixava audiências entusiasmadas cheia de energia e acabou sendo então chamada o estilo de banjo "Scruggs" . Igualmente influenciando na formação clássica de 1946 dos Blue Grass Boys eram Lester Flatt, de Spartansburg, Tennessee no violão e primeiro vocal conta o tenor do Bill Monroe; Chubby Wise, da Florida na Rabeca; Howard Watts, também conhecido pelo seu nome de comediante, "Cedric Rainwater", no baixo acústico.
Quando no começo o Earl Scruggs, e depois o Lester Flatt, deixaram a banda do Bill Monroe para eventualmente formar o seu próprio conjunto, "The Foggy Mountain Boys", eles decidiram incluir em sua formação uma guitarra resofônica, também chamada de "Dobro". Este instrumento, hoje em dia faz parte de muitas bandas de Bluegrass como resultado daquela época. Burkett H. "Uncle Josh" Graves da cidade de Tellico Plains, Tennessee, ouvia o Scruggs com seu estilo "3-finger picking" em 1949 e o adaptou para o seu, quase obscuro instrumento da barra deslizante (slide bar). Com Flatt & Scruggs de 1955 até 1969, Graves introduziu seu estilo muito emulado com toque de blues em seu dobro.
De 1948 até 1969, Flatt & Scruggs era a maior força de introdução do Bluegrass nos Estados Unidos através da televisão nacional, nas maiores universidades e colégios e em apresentações em escolas em inúmeras cidades. Scruggs escreveu e gravou uma das mais famosas musicas instrumentais, "Foggy Mountain Breakdown", que foi usada no longa metragem "Bonnie & Clyde". Em 1969 ele estabeleceu uma inovadora carreira solo junto com seus 3 filhos, "The Earl Scruggs Review", Scruggs ainda grava e se apresenta em datas selecionadas em grupos que normalmente inclui seu filho Randy no violão e seu filho Gary no baixo.
Após deixar a parceria com Scruggs em 1969, Lester Flatt continua com sucesso sua própria banda, "The Nashville Grass", se apresentado firme até pouco antes de sua morte em 1979. Nos anos 50, as pessoas começaram a fazer referência a este estilo de música como sendo a "Bluegrass Music". Bandas de Bluegrass começaram a pipocar pelo país inteiro e Bill Monroe ficou reconhecido com sendo o "Pai da Música Bluegrass" (Father of Bluegrass Music).
Nos anos 60 foi introduzido pela primeira vez o conceito dos "Bluegrass Festivals" , mostrando conjuntos que pareciam ser competidores entre si com uma audiência relativamente limitada na mesma conta em festivais de final de semana pelo país inteiro. Carlton Haney, de Raidsville, Carolina do Norte, ficou com o reconhecimento de ter encarado e produzido o primeiro festival de bluegrass music de final de semana, mantido em Fincastle, na Virgínia em 1965.
O aumento da disponibilidade de gravações da música tradicional, os festivais de bluegrass indoor e outdoor em âmbito nacional, o cinema, a televisão e os jingles comerciais de propaganda , mostrando bluegrass music, tirou esta música da obscuridade dos dias modernos. "Lester Flatt and Earl Scruggs & the Foggy Mountain Boys" alcançaram prominência nacional com patrocínio de turnê de Estrada pela empresa "Martha White Flour" e por tocarm a música do longa metragem "Bonnie & Clyde" mencionado anteriormente, e da mesma forma pela show de televisão chamado Beverly Hillbillies (Família Buscapé). O filme "Deliverance" (Amargo Pesadelo) também mostrou bluegrass music em particular, o duelo de banjo (Dueling Banjos), gravado pelo Eric Weissberg no banjo e Steve Mandel no violão. Em 2001 a música do campeão de bilheteria para o filme dos irmão Coen, "O Brother, Where Art Thou" (Meu irmão cadê você) atraiu uma audiência mais ampla para bluegrass e música country tradicional .
Bill Monroe faleceu em 9 de setembro de 1996, quatro dias antes de completar seus 85 anos. Em maio de 1997, Bill Monroe recebeu a honra ao mérito dos artista famosos do Rock & Roll (Hall of Fame) pela fato da sua profunda influência com sua música dentro da música popular dos Estados Unidos.
A música bluegrass está sendo tocada e apreciada pelo mundo inteiro, a IBMA (International Bluegrass Music Association) conta com sócios em todos os 50 estados dos Estados Unidos e em 30 países. Em adição ao estilo original nascido em 1945 que ainda está sendo tocado amplamente, os conjuntos de bluegrass hoje em dia refletem influências de uma variedade de fontes incluindo jazz tradicional e de fusion, country music contemporânea, música celta, Rock & Roll ("Newgrass" ou bluegrass progressivo), "Old-Time Music" e "Southern Gospel Music", e juntando letras de música traduzidas para outros idiomas.
Versão original em inglês por Greg Cahill : http://www.discoverbluegrass.com/

sexta-feira, 12 de março de 2010

A MÚSICA FOLK

A música “folk” (palavra que se originou no século 19 como um termo para o folclore musical) tem sido definida de várias maneiras: como música transmitida de boca em boca, a música das classes mais baixas, a música com o compositor não conhecido.

Ela foi contrastada com estilos comerciais e clássicos. Desde meados do século 20, o termo tem sido também utilizado para descrever um tipo de música popular que é baseada na música tradicional. Subgêneros incluem folk rock, folk elétrico, folk metal e música folk progressiva.

O surgimento do termo "folk" coincidiu com uma explosão de sentimento nacional em toda a Europa, que foi particularmente forte na periferia, onde a identidade nacional foi mais reclamada. O termo Inglês "folklore", para descrever a música e danças tradicionais, entrou no vocabulário de muitos países da Europa continental, cada qual com sua música folk.

A música popular pode ser vista como parte de um esquema que inclui quatro tipos musicais: 'primitivo' ou 'tribos'; 'elite' ou 'arte', 'folk' e 'popular’. Música celta, por exemplo, é um termo usado por artistas, gravadoras, lojas de música e revistas de música para descrever um grupo amplo de gêneros musicais, que evoluíram a partir das tradições musicais populares dos povos celtas da Europa Ocidental.

Estas tradições incluem Música folclórica da Irlanda, da Escócia, da Ilha de Man, da Cornualha, do País de Gales, Música Bretão e Música da Galicia. Na proliferação de gêneros musicais populares, algumas músicas foram classificadas como "world music" e "música roots".

Após a Segunda Guerra o “folk revival” na América e na Grã-Bretanha trouxe um novo significado à palavra. Folk era visto como um estilo musical, a antítese da ética comercial "popular" ou "pop" musical. A popularidade do "folk contemporâneo" causou o aparecimento da categoria "Folk" no Grammy Awards de 1959. Em 1970 o termo foi trocado por "Melhor Gravação Étnica, ou Melhor Gravação Tradicional (incluindo blues tradicional)", e em 1987 houve uma distinção entre "Best Traditional Folk Recording" e "Best Contemporary Folk Recording".

O termo "folk", no início do século 21, poderia abranger artistas como Donovan, Bob Dylan, e muito mais. Muitas das bandas de acid rock de San Francisco começaram tocando folk e blues acústico.

Dylan utilizou instrumentos elétricos e ajudou a inaugurar os gêneros folk rock e country rock, em especial por seu álbum “John Wesley Harding” e seu apoio para a música do The Band. No Reino Unido, o revival folk promoveu jovens artistas como Martin Carthy e Roy Bailey e uma geração de cantores e compositores como Bert Jansch, Ralph McTell, Donovan e Roy Harper. Bob Dylan, Paul Simon e Tom Paxton visitaram a Grã-Bretanha por algum tempo no início dos anos 1960, os dois primeiros, principalmente, fazendo uso posterior do material tradicional Inglês que ouviram.

Ao longo da história do homem, a música folclórica, criada e aceita coletivamente, traduz idéias e sentimentos comuns de um povo ou de um grupo e se transmite por tradição oral. Suas principais fontes são os fenômenos rituais ou lúdicos (jogos), ou a comunicação de fatos e notícias. As composições, anônimas, divulgam-se e se repetem, e assim se transformam e apresentam aspectos novos, adaptados a uma comunidade, até converter-se em patrimônio comum de um grupo social.

As composições de música folclórica não diferem essencialmente das composições da música erudita quanto aos aspectos técnicos, pois podem utilizar idênticos ritmos, escalas e estruturas. Falta, no entanto, à música folclórica, a notação escrita, o que a torna especialmente suscetível a modificações e à apropriação pela coletividade. Episódios épicos ou amorosos, cantados em forma de balada, constituem a maior parte do repertório, enriquecido com canções de trabalho, canções que acompanham jogos e celebrações e as que se relacionam com o ciclo agrícola anual, freqüentemente associadas à dança. O padrão mais comum é o das estrofes de poucos versos com rima livre, que se repetem estruturalmente ao longo da canção. A música é freqüentemente monofônica, isto é, de melodia única e não harmonizada, mas há obras que apresentam outras linhas melódicas sobre a voz principal, assim como estruturas harmônicas.

As obras folclóricas utilizam mais freqüentemente instrumentos como flauta, alaúde, violão e instrumentos de percussão. Por influência da música orquestral, a partir do século XIX, foram adotados também violinos, clarinetes, harpas, harmônios e outros. O ritmo e a métrica da música folclórica estabelecem uma relação estreita com o verso empregado: a melodia se ajusta à letra ou, pelo contrário, as palavras parecem escolhidas mais pela sonoridade que pelo sentido. Na Europa ocidental e na América, cada sílaba corresponde a uma nota, numa distribuição estrófica mais ou menos simétrica. O folclore balcânico - iugoslavo, romeno, húngaro - é rico em melismas, figuras métricas em que uma sílaba se prolonga sobre várias notas sucessivas. A música folclórica oriental, a da península ibérica (flamenco) e a dos Balcãs são ricas em passagens musicais sem medidas rígidas, em que a voz ou o instrumento se perdem em inflexões e ornamentos melódicos.

As escalas são relativamente simples, às vezes de duas ou três notas. A escala pentatônica ou de cinco notas é própria da música oriental e de boa parte da música européia, que também emprega a escala diatônica usual, de sete notas, elaborada a partir dos modos gregos. Outras escalas de origem diversa são usadas, por exemplo, no primitivo flamenco espanhol e na música negra dos Estados Unidos, o spiritual, derivado dos antigos cânticos escravos.

Apesar da grande variedade dos instrumentos da música folclórica nas diferentes culturas, é possível estabelecer uma classificação deles em grupos. Assim, um primeiro grupo se compõe dos instrumentos fabricados pelos povos primitivos, não raro com outras finalidades além da musical. Assim ocorreu com os cornos de caça e os tambores de guerra ou de cerimônias rituais. Os povos primitivos fabricavam apitos de folhas de árvores, flautas de bambu e caixas de ressonância dos ossos de suas presas. Tomando como ponto de referência as sociedades tribais conhecidas, pode-se afirmar que a percussão desempenhava papel predominante nas antigas culturas.

Um segundo grupo se constituiu no mundo ocidental com a chegada de instrumentos procedentes de regiões remotas, sobretudo asiáticas, entre eles, os banjos, xilofones, gaitas e antigos instrumentos de cordas que deram origem aos primeiros violinos. Finalmente, a cultura urbana que se desenvolveu desde a época da Renascença legou aos conjuntos folclóricos grande variedade de instrumentos próprios da música erudita ou popular: violões, clarinetes, violas, violinos, contrabaixos etc. Surgiram desse modo os instrumentos que se tornaram característicos da música folclórica de cada país: a balalaica, similar ao alaúde, no folclore russo; a gaita dos povos europeus de origem céltica; as flautas de barro enraizadas no folclore pré-colombiano dos países latino-americanos; e a flauta balcânica, composta de tubos justapostos. Entre os instrumentos de percussão são exemplos notáveis a marimba centro-americana, o pandeiro espanhol e o címbalo húngaro, semelhante ao cravo.

Os estilos das canções folclóricas, de grande diversidade, têm gerado controvérsias no tocante a possíveis classificações. Segundo o compositor húngaro Béla Bartók, profundo conhecedor do folclore musical de diversos povos, existem duas modalidades de expressão: o parlando rubato, baseado em padrões que admitem ornamentos melódicos mais livres da parte do intérprete, e o tempo giusto, que segue de modo rígido os esquemas rítmicos preestabelecidos.

O apogeu do pensamento humanístico na Europa contemporânea, o renascimento das ciências históricas e antropológicas e a apreciação da arte como atividade superior do intelecto chamaram a atenção para o valor das manifestações criativas nas diferentes sociedades humanas da antiguidade ao presente. A música folclórica passou a atrair o interesse de pesquisadores, músicos e escritores e tornou-se mesmo objeto de estudo sistemático.

Em muitas composições eruditas transparecem os padrões, estrutura ou melodias do folclore da terra natal do compositor. Tal efeito foi deliberadamente procurado durante o século XIX com o surgimento das escolas nacionalistas de música, que pesquisaram as raízes populares para criar novos modos de expressão ou novos estilos. Canções populares foram recriadas, ou serviram como base rítmica de elaboradas e grandes obras orquestrais de autores célebres como Chopin, Albéniz, Grieg e, posteriormente, Bartók, Manuel de Falla, Gershwin e Villa-Lobos.

A relação entre a música dita popular e a folclórica é ainda mais estreita: ambos os termos não raro se confundem e chegam a identificar-se como conceitos análogos. A expressão "música popular" em geral se refere à música urbana, surgida nos últimos decênios, cuja transmissão se faz pelos meios de comunicação - jornal, rádio, televisão. Os autores de melodias populares são conhecidos. Enquadram-se nesse gênero o jazz e o rock, o folk e o country americanos, a chanson francesa, as baladas italianas, o samba, o tango etc.

domingo, 7 de março de 2010

ESCUTANDO O PASSADO

Para compor uma música e ser fiel ao estilo que se propõe é indispensável olhar para o passado. Como compor Folk sem conhecer a história da música Folk? Como compor blues sem conhecer a história do blues?

A maioria dos músicos que ignoram estas questões com a alegação de "desenvolverem seu próprio estilo", geralmente só produzem merda. Talves este seja o motivo de nos últimos 10 anos, pouquíssimas composições terem despertado minha atenção.

Buscando este resgate histórico, apresento um clássico interpretado por Pete Seeger, Doc Watson, Clint Howard, & Fred Price: Careless Love.

sábado, 26 de setembro de 2009

"ENTRE AMIGOS" - 2006


Desde o meu primeiro contato com a música, nos tempos idos de minha infância querida, sempre senti uma suave frustação em simplesmente reproduzir músicas de outras pessoas. Sentia-me como se estivesse lendo o mesmo livro repetidas vezes, e este estranho sentimento me impulsionou a escrever minha primeira música em 1996.
Sempre me senti absolutamente deslocado na sociedade moderna. O capitalismo americano corroendo a essência da mais pura criatura, a frieza da internet, a indústria televisiva ditando as regras da "nova cultura", a política mundial e seus "falsos" cristos. O mundo cultural do século 21 foi tão contaminado pelo capitalismo que até mesmo Beethoven passaria despercebido nos dias atuais, fosse ele nosso contemporâneo. Estes sentimentos sempre estiveram presentes em minha vida, mas foram nos anos de 1999 e 2000 que atingiram o apogeu em minha mente, e foi nesta época que escrevi a maioria das canções que viria a gravar em 2006, naquele que seria o meu primeiro trabalho de músicas próprias - "Entre Amigos".
O Rock and Roll sempre foi o carro chefe da minha inspiração. Bandas como Creedence Clearwater Revival, The Who, Beatles, Simon and Garfunkel, Eagles e Dire Straits estavam entre minhas maiores influências musicais. Mas por mais que eu tentasse compor algo parecido naquele período, tudo o que saía de minhas mãos refletia o meu estado de espírito altamente perturbado.
O resultado muitas vezes me deixava frustrado, outras vezes irritado. Eu já havia composto 9 músicas entre 1996 e 1998 , e todas ficaram extamente como deveriam ficar. Algumas destas canções foram utilizadas em 1998 pela Colling K, então minha banda, e duas destas músicas viriam a rodar algumas vezes na programação da Rádio Transamérica, em um programa que valorizava o Rock Gaúcho, graças ao Festival Bad Wolf.
Mas no final de 1999 eu vivia outro momento. Sentia a vontade de compor novas canções. A Colling K havia terminado, eu estava sem banda e procurava algo novo. Mas as minhas novas composições não se pareciam em nada com o que deveriam se parecer, e então um dia joguei tudo dentro de uma gaveta e as deixei ali, adormecidas, sem saber se algum dia eu voltaria a aproveitá-las. Foi somente em outubro de 2000, quando eu escrevi uma música chamada Fada dos Anjos, é que fui compreender que a composição não deve ser direcionada. Ela deve partir de dentro de seu criador, deve surgir e fluir como se fosse o próprio som do coração. Retomei meus manuscritos da gaveta e encontrei neles a essência da minha alma. Um momento do livro de minha vida registrado em frases e cifras.
A idéia de entrar em estúdio e gravar um disco solo acabou ficando em segundo plano depois de 2001. A minha passagem pela banda Alcaholy (2001-2003) e meu posterior ingresso na banda Acústico Blue em 2003 fizeram-me parecer obsoleta a idéia de um trabalho solo.
Em 2005 estávamos com os ânimos à flor da pele na Acústico Blue. Haviamos vencido um festival de rock, estavamos com a agenda lotada em todos os finais de semana, mas as coisas não iam bem. Eu voltara a sentir a velha sensação de estar lendo o mesmo livro repetidas vezes. Tocávamos muito, mas nada nosso. Foi em janeiro de 2006 que decidi sair da Acústico Blue, e retomar meu antigo projeto de composições próprias.
Eu estava desgastado com a música. Tocara por dois anos quase que ininterruptamente na noite e estava disposto a tirar a música da minha vida. Foi com este espírito que entrei em estúdio em 2006, junto com meu amigo Cabeça, para gravar "Entre Amigos", e este seria meu "último show". Das quinze músicas escritas para ele, apenas nove acabaram entrando, e uma versão que fiz para Crazy Mary.
"Entre Amigos" foi gravado de forma independente e sem nenhuma pretenção comercial. Das 150 cópias que foram feitas, todas foram distribuidas gratuitamente entre meus amigos, e daí vem o nome deste trabalho.
Em setembro de 2006, "Entre Amigos" foi reproduzido na íntegra na Rádio Ferrabraz em Sapiranga, no programa dominical da época, o qual eu havia sido convidado para participar e mostrar meu trabalho. Logo após o CD ter tocado por inteiro, uma ouvinte ligou para o programa (talvez a única que tenha tido paciência para ficar ao lado do rádio durante toda a execução do disco) e falou apenas uma frase: Fantástico, e a voz dele é muito boa.
Esta foi a única crítica que o mediano "Entre Amigos" recebeu no ano de seu lançamento. Pode parecer muito pouco diante dos olhos da esmagadora mídia capitalista, mas para este compositor que lhes escreve, esta simples crítica foi a glória da glória.
O ano de 2006 foi um ano de reclusão artística, onde passei a me dedicar exclusivamente aos esportes, corrida, musculção e surf. Mas a ironia do destino acabaria por transformar este ano em um marco na minha vida musical. Muitas mudanças aconteceriam e uma nova fase criativa começaria a surgir, assim como meu regresso à Acústico Blue em dezembro deste mesmo ano.
"Entre Amigos" não é um disco maravilhoso, mas também não é ruim. É um trabalho mediano, sempre bem aceito por quem o escuta. Talves o excesso de negativismo presente nas letras, e a sonoridade ao estilo "Tempestade" do Legião Urbana, tenham tirado um pouco do brilho de boas melodias. Mas mesmo assim, me orgulho de tê-lo escrito.